23 de janeiro de 2022

A8 diariodolitoral.com.br DOMINGO, 23 DE JANEIRO DE 2022 A Viajar de carro pela In- glaterra não é uma opção lá muito considerada pelos tu- ristas brasileiros que visitam a terra da rainha. Isso aconte- ce porque, além da enorme oferta de atrações em Lon- dres, até mesmo motoristas experientes sentem um cer- to arrepio quando ouvemfa- lar em dirigir na “mão in- glesa” —quando os veículos circulampelo lado esquerdo e ultrapassam pelo direito. Na prática, dirigir pelas estradas inglesas não é um pesadelo tão grande quan- to parece — em meia hora ao volante já dá para se acos- tumar. E sim, vale a pena conhe- cer o interior que, se por um lado, não tem o lado cosmo- polita de Londres, por outro oferece ummergulhona his- tória, com paisagens de im- pactante beleza e uma agra- dável imersão nos costumes da chamada Inglaterra real, que, aqui, pouco tem a ver com a rainha ela mesma. Adica é pegar o carro logo no aeroporto de Heathrow e dali seguir emdireção ao su- doeste da península para ex- plorar em cerca de uma se- mana o condadode Cornwell (Cornualha), agendandoLon- dres para o inal da viagem —lá o carro de initivamente deixa de ser uma comodida- de para se transformar em um verdadeiro estorvo. Aomotorista ainda ressa- biado, vale dizer que, em ge- ral, as estradas inglesas são seguras, bem sinalizadas e, mesmo as mais interioranas e secundárias, apresentam uma boa pavimentação, ape- sar de às vezes pareceremes- treitas demais para dois veí- culos ao mesmo tempo. Em relação ao clima, o in- Viaje de carro para conhecer a Inglaterra ‘real’ ON THE ROAD. Dirigir pelas estradas inglesas não é um pesadelo tão grande quanto parece — emmeia hora já dá para se acostumar Mesmo as estradas interioranas são bem pavimentadas Vista de uma das praias da região da Cornualha FACEBOOK/@forCornwall DIVULGAÇÃO verno não é extremamente rigoroso, variando entre 4°C e 10°C, mas as chuvas são fre- quentes. A partir de março e até junho, o tempomelhora, icandomais irme e ameno. Nas férias de julho e agos- to, a temperatura pode che- gar aos 30°C, mas aí o pro- blema é a lotação de turistas ingleses, que temo litoral da Cornualha comoumdestino tradicional no calor. A partir do aeroporto, a primeiraparada é Salisbury, a cerca de 120 km. Cidade me- dieval, abriga uma catedral imponente, um centro com- pacto e bempreservado com boas opções de restaurantes, além do misterioso círculo de pedras de Stonehenge. Erguido entre 3.000 a.C. e 1.600 a.C., é considerado sa- grado e místico para alguns, mas nem tanto assim para outros. De qualquer forma, já que se está por ali, vale conferir. Seguindona linha históri- ca, o próximo destino é Tin- tagel, a 240 km a sudoeste. Saia um pouco da rodovia principal e siga pelas estra- das secundárias, passando por fazendas e vilas perdi- das no tempo comseus pubs mais que centenários. Em Tintagel, um parque aberto à visitação abriga as ruínas de um castelo no alto deumpenhascoonde supos- tamente teria nascido o len- dário rei Arthur. Tambémes- tão por ali as cavernas onde o mago Merlin, quem sabe, preparava suas poções má- gicas. Depois da imersãona his- tória do mais ilustre ilho lo- cal, dê uma paradinha na Cornish Bakery para provar o tradicional cornish pasty, uma empanada assada re- cheada com carne e batatas, que lembra as similares chi- lenas ou argentinas, só que no tamanho GG. Se a fome persistir, siga paraumalmoçoemPadstow, a apenas 40 km de Tintagel. Ao longo do pequeno porto cheio de pequenos barcos de pesca, espalham-se diversas lojinhas, sorveterias, doce- rias e charmosos restauran- tes especializados em frutos do mar que, dizem, são pes- cados ali mesmo. Continuando30kmrumo ao sul, está Newquay, típica cidade de veraneio com 20 mil habitantes, opções de es- tadia a bons preços e uma atmosfera praiana que atrai sur istas e famílias de turis- tas britânicos no alto verão, ainda que a água jamais seja algo além de muito fria. Da encosta de Fistral Bea- ch, é possível acompanhar, sem sessão de palmas, um belo por do sol num dos ba- res encravados na encosta. Para acompanhar, boas cervejas artesanais da região, assim como vinhos france- ses e italianos a preços razoá- veis (oque infelizmentepode mudar nesses novos tempos pós-Brexit). A comida passa longe da so isticação, mas, como esta- mos em clima de praia, uma pizza bem feita sempre ga- nha ares de banquete. Tudo embalado ao som do bom e velho rock and roll, trilha so- nora o icial da viagem. Uma esticada de 50 km ao sul leva até St. Ives, cida- de portuária com 11 mil ha- bitantes erguida numa es- treita península e conhecida por abrigar praias de areia branca e ondas perfeitas, lis- tadas entre as melhores da Inglaterra. Com ares de so isticação artística, reúne várias gale- rias de arte, entre elas um braço da Tate Gallery, com trabalhos de artistas ingleses contemporâneos. O porto tem uma boa va- riedade de cafés e restauran- tes, que fazemde St. Ives uma excelente opção de parada para uma providencial refei- ção. A parte baixa e mais an- tiga, conhecida comoDown- -a-long, ica na crista de terra que separa a ilha do resto da cidade. Emmeio a ruelas comsu- gestivos nomes como Salu- brious Place, Teetotal Street e The Digey, encontram-se antigas casinhas brancas que hoje servem ao comér- cio local e, claro, mais gale- rias. A ideia é perder (ou ga- nhar) tempo zanzando por ali numa verdadeira viagem no tempo. A 45 minutos de St. Ives, cruzando uma das pontas da Cornualha até Porthcurno e seguindo por uma estrada bem, mas bem estreita, che- ga-se a umdos mais impres- sionantes teatros ao ar livre do mundo. Com origens que remon- tam os anos 1920, e incrus- tado no penhasco acima de ummar de verde esmeralda profundo, o Minack Theatre mantém uma programação regular que vale ser checa- da antes da visita. Se a data do passeio não coincidir o comnenhuma apresentação, ainda assim é possível (e im- perdível) conferir o local, de onde se tem uma vista im- pressionante da arquitetura do próprio teatro, das praias e da imensidão do oceano. Carro em viagempelo in- terior é grande aliado, mas em Londres se torna um es- torvo -@CornwallCouncil no Twitter Já no caminho de volta, deixando o litoral e subindo por 95 km, chega-se a Lostwi- thiel. Localizada às margens do tranquilo rio Fowey, ovila- rejo temcerca de 3.000habi- tantes e umclima acolhedor, comumbompub, pequenos restaurantes familiares, pa- daria, açougue, uma loja de vestidos de noiva, outra de artigos fotográ icos, e ainda mais uma com quinquilha- rias antigas. Não há nenhuma atra- ção propriamente incrível em Lostwithiel, o que faz os locais perguntarem por que raios algumturista desavisa- do decidiu parar naquele im de mundo. Pode ser oastral, oclima, a curiosidade, ou apenas uma simples parada para descan- so após um interessante giro pela Cornualha antes de en- carar os quase 400 km de volta até Londres, vai saber. Mas, se não tiver uma res- posta pronta, não se preocu- pe. Sempre pode dizer que está ali especialmente para acompanhar umdos eventos mais importantes de todo o condado: a tradicional cor- rida de patinhos de borra- cha. (FP) Vale a pena conhecer o interior que, se por um lado, não tem o lado cosmopolita de Londres, por outro oferece ummergulho na história Escultura do rei Arthur em parque aberto no castelo Tintagel DIVULGAÇÃO Turismo

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